quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Movimento de Inovação na Escola


César Nunes: “A escola tradicionalista foi aniquilada com a pandemia” 

Reflexões necessárias . O Movimento de Inovação na Escola um site que traz excelentes reflexões. Clique no link e verifique o pensar  de César Nunes.




http://movinovacaonaeducacao.org.br/noticias/cesar-nunes-a-escola-tradicionalista-foi-aniquilada-com-a-pandemia/ 


sexta-feira, 21 de agosto de 2020

PROPOSTA PARA TEXTO ORIENTADOR DO TEMA DOS FESTEJOS

Elaborado por Gilcéia Souza

Festejos farroupilhas 2020

GAÚCHOS SEM FRONTEIRAS

Motivos:

Baseado na Carta de Princípios documento Norteador do Movimento Tradicionalista Gaúcho, citando os artigos:

1º - Auxiliar o Estado na solução dos seus problemas fundamentais e na conquista do bem coletivo.

2º - Cultuar e difundir nossa História, nossa formação social, nosso folclore, enfim, nossa Tradição, como substância basilar da nacionalidade.

3º - Promover, no meio do nosso povo, uma retomada de consciência dos valores morais do gaúcho
,...

 e na apresentação do Plano de ação Social do MTG, temos:

“O drama universal do ser humano é a nossa perecibilidade. Somos muito frágeis e vivemos muito pouco para cultivarmos apenas o presente. E, afinal, o que é mesmo o presente? O minuto em que vivemos? O segundo que já passou? A vida é como um rio em movimento. As águas passadas podem mover os moinhos do futuro.

Cultivar a tradição, para nós do Movimento Tradicionalista Gaúcho, não é uma atitude de contemplação saudosista. É, principalmente, a preocupação em manter livre para os nossos filhos e netos a estrada aberta pelos bisavós. Felizes dos povos que ainda possuem cultura própria. Não é culpa dos gaúchos se a possuímos e cultivamos.

Não é por acaso, também, que a palavra cultura é empregada para os campos e para as mentes. O desenvolvimento econômico e social é indispensável para a prática do verdadeiro tradicionalismo. Os Centros de Tradições Gaúchas não devem ser apenas clubes de gente que anda de bombacha e vestido de chita. Devem ser, ao lado do entretenimento que propiciam a seus associados, uma verdadeira escola de comportamento ético e social.

Todos sabemos que o Brasil vive um grave momento no seu processo desenvolvimentista. Fatores externos e internos são responsáveis pelo desafio que enfrentamos nos setores financeiro e social. Os governos municipais e estaduais pressionam o governo federal em busca de recursos e este deve captar no exterior os bilhões de dólares de que necessitamos para reaquecer a nossa economia. A inflação devora os salários e rendimentos. O desemprego começa a ameaçar seriamente os lares gaúchos...”(Onésimo C.  Duarte, 1983)

No ano de 2020, diante da pandemia do Covid-19 e as incertezas que isso nos traz cabe a reflexão.


Nessa contingência, parece-nos fundamental o posicionamento do MTG em propor aos poderes públicos colocar a serviço da causa pública uma estrutura formada por mais de 1.773 entidades tradicionalistas com milhares de associados e simpatizantes; homens e mulheres que acreditam nas nossas raízes para a cura dos males que nos afligem; gente que vive em todos os municípios do Estado e que convivem com as dificuldades que tanto desejamos ajudar a solucionar.

A Comissão dos festejos farroupilhas propõe este ano o seguinte tema:

                                    “GAÚCHOS SEM FRONTEIRAS “                                                         

Introdução.

 

As fronteiras agrícolas dos últimos 100 anos foram todas abertas por gaúchos. A agropecuária brasileira tem sotaque sulista. Peões que trabalham na lida do gado ainda se vestem com trajes típicos. O gaúcho típico, com sua vestimenta de lida é um personagem centenário. A bombacha, calça usada para a lida do campo que virou símbolo desse povo, foi introduzida por volta de 1870, como consequência da guerra do Paraguai e os próprios cavalos, tão venerados no Sul, se tornaram parte da cultura. A raça crioula tem tudo a ver com a cultura sulista, de pastoreio, e lida com o gado’, cavalo crioulo nosso símbolo, nosso orgulho.. Pode parecer imodesto o que vou dizer, mas a verdade é que o Brasil só é uma potência na produção de alimentos por causa da migração dos gaúchos (Pedro Simon, A Diáspora dos Gaúchos)

 Cavalo Crioulo nosso símbolo que derruba as fronteiras : Freio de ouro: uma das competições equestres mais tradicionais do País, em Esteio .Uma mostra dessa paixão arraigada está no Freio de Ouro, disputa equestre com ares de Copa do Mundo de futebol. Criadores do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina competem durante todo o ano diversas seletivas em que os 18 melhores se encontram numa grande final. Esses animais na verdade representam a região platina, que envolve esses três países, o que explica determinadas semelhanças entre os povos. Mas o que faz do gaúcho um desbravador

Um milhão de gaúchos já deixaram o Sul para desbravar fronteiras.

Segundo estimativas do governo do Rio Grande do Sul, nos últimos 40 anos, cerca de um milhão de gaúchos deixaram os pampas em busca de novas fronteiras agrícolas. Isso representa aproximadamente 10% da população do Estado, num fluxo que ainda não cessou. Enquanto houver fronteiras a serem exploradas, haverá migração de gaúchos. 

Devemos destacar, “que foram os Centros de Tradição Gaúcha, ao se multiplicarem rapidamente nas novas fronteiras agrícolas brasileiras, que favoreceram a coesão dos migrantes sul rio-grandenses. Foram os CTG que uniram a nossa gente dispersa. Em torno de qualquer agrupamento de gaúchos desbravadores, fosse no cerrado ou na floresta, logo surgia um centro de tradições. E o novo galpão erguido às pressas, às vezes muito precário, servia não só para as atividades culturais e de lazer, mas também para a tomada de decisões importantes para o futuro da comunidade que se formava.” .

Nesta expansão para o interior brasileiro, os gaúchos levaram sua indumentária, seus hábitos e sua cultura. Não constituíram caravanas ou expedições de caráter bandeirantista. Não foram para pilhar ou explorar. Pioneiros, foram para semear e ficar. Lá se estabeleceram e, apesar de todos os sacrifícios, na maior parte das vezes superaram os reveses e souberam construir, pelo trabalho, novos núcleos de progresso, disseminando pelo território nacional a maneira gaúcha de ser brasileiro (Jarbas Lima , O sentido e o alcance social do tradicionalismo)

Disseminação de MTGs pelo mundo

O segredo está no que o CTG oferece ao ser humano. Uma das necessidades psicológicas mais importantes do homem moderno que quer ser social é a de convivência harmoniosa entre avós, filhos e netos. No CTG, a família convive pacificamente. É isso que atrai as pessoas, assim como as regras de convivência em que o respeito é fundamental. A hierarquia e a disciplina também ajudam. As questões da tradição e do folclore são ganhos paralelos.

 

Telurismo Cibernético-Fronteiras Mundiais

E como previu Barbosa Lessa, na obra Nativismo:

  ...no entanto, aquela etapa é essencial para a compreensão do que vem ocorrendo com a cultura desde os anos 90 do século XIX. Ou seja: ciclicamente, de trinta em trinta anos, ao ensejo de alguma rebordosa mundial ou nacional, e havendo clima de abertura para as indagações do espírito, termina surgindo algum "ismo" relacionado com a Tradição.

              Assim foi com o gauchismo cívico de Cezimbra Jacques, dos anos 90 (1890). Com o regionalismo dos anos 20 (1920). Com o tradicionalismo dos anos 50 (1947...). Com o nativismo de 1970. E sou capaz de jurar que lá pelo ano 2010 surgirá uma espécie de telurismo antinuclear ou cibernético, resultante da inquietação de analistas de sistemas em conluio com artistas plásticos, incluindo cartunistas e comunicadores visuais. É claro que, de acordo com cada época, modifica-se a dinâmica e o campo de ação. Mas, no fundo, é tudo a mesma coisa: expressão de amor à gleba e respeito ao homem rural.”

Hoje tal previsão se reafirma, e o uso de ferramentas de comunicação virtual dominam este momento, onde o convívio físico está limitado ou impedido; sendo por vezes o meio mais indicado, quando não o único disponível para viabilizar a “ alimentação” deste amor à terra.

 Para trabalharmos esse tema devemos considerar o Decreto 45.816 de 2008 institui os Festejos Farroupilhas. De acordo com o Art. 1º, ficam instituídos os Festejos, como conjunto de eventos alusivos à comemoração do aniversário da Revolução Farroupilha (1835-1845) e de promoção das tradições histórico-culturais do Rio Grande do Sul. Fazer um estudo da formação da imagem do gaúcho, o modo de vida, comportamento político, o gaúcho riograndense e o gaúcho castelhano,o início do fomento a cultura, o crescimento do gauchismo ,a tradição e a globalização, Aculturação, Desterritorialização da cultura e as representações dos gaúchos sem fronteiras: economia, agricultura, música, literatura , cavaleiros da paz.

“A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez, não seja menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe do presente” Marc Bloch.

                            

1-A Formação da imagem e pensamento do gaúcho

O gaúcho já é uma figura arquetípico, física e filosoficamente falando. O gaúcho não decorre de uma determinada e única etnia. É, antes de mais nada, o amalgamento de uma pluralidade de etnias. Nesta miscigenação de  diversas culturas e povos, desde o nativo do sul da América, passando ao negro escravo, juntando partes da culturas trazidas dos mouros pelos hispânicos, povos que se fixaram ao longo do Rio da Prata, até os imigrantes portugueses, sua base genética (para o gaúcho riograndense), aos imigrantes vindos da Ilha dos Açores e depois  dos imigrantes alemãos e italianos. Dos nativos, chamados índios, recolheu o hábito do chimarrão, o emprego do uso cavalo para caçadas e cuidados com o rebanho. Também recolheu o emprego de ervas nativas para o uso medicinal. O gaúcho pode ser comparado com o “Cowboy” da América do Norte , com o peão boiadeiro do centro do País e com o vaqueiro do noroeste do País. Nesta comparação teremos conta das condições culturais , climáticas e da geografia. O modo de vida e forma de construir o pensamento são totalmente diferentes.

 O gaúcho brasileiro só existe a partir do ano de 1732, a partir da distribuição das “Sesmarias”, pelo rei de Portugal, ao sul de Laguna. Antes, em razão do Tratado de Tordesilhas( 1494), o território pertencia aos reis de Espanha. Somente em 1787, Portugal e Espanha, tinham em solo Riograndense uma Comissão Mista para demarcar as divisas. O povoamento das sesmarias foi realizado a partir de imigrantes açorianos, iniciada no século XVII, em Santa Catarina, para o Sul. Antes da presença portuguesa no extremo sul do Brasil, aqui só tínhamos os nativos e alguns espanhóis, com ênfase para os jesuítas que criaram as Missões dos Sete Povos.

Dos açorianos recolheu os costumes da pecuária e, quase com certeza, parte de sua indumentária característica, ai incluídos o modelo de vestuário feminino. Dos povos vizinhos, de origem hispânica, que chamam indistintamente de castelhanos ou correntinos, adotou se outros hábitos, como sua indisposição as atividades físicas, o espírito contestador e a parte de sua musicalidade.

   Temos a presença da figura do gaúcho em pelo menos três países do Cone sul da América: Argentina, Brasil e Uruguai, todos de vocação pecuária, a qual se fixa o gaúcho. Existem diferenças na figura do gaúcho de um país a outro, como existem diferenças do gaúcho morador na região fronteira castelhana e do gaúcho fixado nos campos de cima da serra. Entre diferenças e semelhanças, são maiores as semelhanças do que as diferenças. É certo que o gaúcho surgiu primeiro no pampa. De uma forma sem testemunhos. Disso não sobram dúvidas. Sua gêneses, no que diz respeito ao verbete designativo, é que pode trazer  muitas lendas, que falam desde o cruzamento entre índios e brancos da Europa, até um traço de origem moura dos espanhóis.

       Sobre o gaúcho se encontram referências desde longa data . Auguste de Saint-Hilaire, Avé-Lallemant e CondeD’eu, disseram como viram a figura do gaúcho.

Para  Saint-Hilaire, o naturalista e pesquisador francês, que visitou o Brasil em 1820, o gaúcho se nutre apenas de carne... mora em mísero rancho...só encontra prazer no fumo e no mate. Quando no Alegrete (Capela do Alegrete), escreveu :...os habitantes consomem pequenas quantidades da lavoura( produtos da lavoura)assim mesmo comparada de outros locais. Na leitura de  Saint-Hilaire tem-se a impressão de que o gaúcho não lhe causou boa impressão , para que escrevesse: sou tentado a acreditar que esse homem, apesar de ser branco, pertence aos habitantes dessa que tem costumes semelhantes aos garuchos.

Sem avaliar o texto original, em francês, não é possível dizer-se o que pretendia significar a expressão ‘garuchos’. Em francês, a palavra gauche, significa esquerdo. É possível que o texto de Saint-Hilaire quisesse fugir de uma comparação ideológica, ou, ainda, estivesse se referindo a arma do gaúcho, a garrucha, arma de fogo precursora do revólver. A palavra garrucho é fonte de pesquisa para a etimologia da palavra gaúcho para Fernando O. Assunção.

 Avé-Lallemant,de visita no Rio Grande do Sul, em 1858, pela região de imigração germânica (São Leopoldo), descreveu os imigrantes alemães com traços de gaucharia pelo modo de manejar o laço, condução de tropas e de se portar na montaria.

O genro do Imperador Dom Pedro II, CondeD’eu, esposo da princesa Izabel, em viagem ao Rio Grande do Sul, em 1858, descreveu o povo riograndense , indistintamente, ora gaúcho, ora riograndenses, não distinguindo as comunidades urbanas e as campesinas. Escreveu : “que o uso do cavalo pelo gaúcho é tão comum, a ponto de dizer que quem não usasse o cavalo era ‘baiano’ ” .

  Considerações sobre a figura do gaúcho não se limitam ao solo riograndense. Como já se viu acima, todos os europeus que o conheceram queriam descrevê-lo. O ítalo-uruguaio, Lino Delvalle Carbojal diz:

Atualmente, a palavra gaúcho significa na América do Sul todo homem do campo, especialmente o crioulo, com todos os seus costumes e propriedades, você conhece ricos ou pobres, solteiros ou comprometidos, jovens ou idosos, proprietários ou vagabundos, desde que sejam capazes de cavalgar e conhecer e praticar os vários manejos  de pastoreio sul-americano e, especificamente, o Riograndense. Uma coisa digna de nota é que o que foi feito não é chamado de gaúchos na medida em que são vãos, como se a palavra fosse aplicável apenas aos homens.

O escritor brasileiro José de Alencar, de sua vasta bibliografia que enfoca os tipos brasileiros, dedicou uma obra ao gaúcho. Demonstra este escritor uma afinidade não só com o Rio Grande do Sul, mas inclusive sua história. Diz ele sobre o Gaúcho e o peão, este que grafa como pião:

 O habitante da campanha do sul não se deslustra por ser um pião, que ele tem em conta da profissão nobre: mas honra-se de ser gaúcho, de pertencer à uma casta independente, distinta e mais viril do que a dos filhos das cidades, enervados pela civilização. 

                      ...

Desconheço a etimologia dos dois vocabulários, e ignoro se alguém antes de mim já se deu ao trabalho de investiga-la, o que é provável. Todavia indicarei de passagem o resultado de minhas conjeturas a este respeito.

 Gaúcho, de origem castelhana, usado principalmente  nas margens do Prata, donde passou para o Rio Grande, parece-me ser corrutela do termo espanhol gacho, o qual se aplica ao boi ou cavalo que anda com a cabeça baixa; daí figuradamente se disse sombrero gacho por chapéu de abas largas caídas, e se derivou gachonear e gachoneria, que exprimem a ideia de faceirice e galanteio, Ou pela forma do chapéu de baeta;ou pela garradice do pião, tocador de viola, cantador de modinhas,pernóstico e cheio de lábias;ou pela forma do chapéu desabado;teriam começado a aplicar-lhe aquele termo, cuja pronúncia gatcho a aspiração áspera do guarani tornou a principio em gáutcho, e depois abrasileirada em gaúcho.(6)

Interessante tese sobre a formação da etnia dos gaúchos (riograndenses) é apresentada por Rubens Vidal Araújo em seu trabalho sobre os Jesuítas dos Sete Povos , ao colocar:

Essas duas correntes de povoados – uma que subia do Rio da Prata , formada por mestiços de espanhóis e portugueses com índias charruas e minuanas, e a outra que descia de Laguna para o Rio da Prata –os lagunistas – mestiços de espanhóis e portugueses com índias Patos ,encontraram-se em algum ponto da fronteira do Rio Grande . Talvez entre as nascentes do Querein(Quaraí) e do Yaguarón (Jaguarão) pela coxilha do Lunarejo. As origens das duas correntes eram as mesmas. Apenas uma falava o espanhol e a outra o português, ou uma mistura dos dois: o luso-hispano. Possuíam ainda um ponto em comum transmitido pelos índios: uma atração irrefreável pela vida livre,sem lei. Havia uma terceira corrente de povoadores, os tapes missioneiros. Eram os donos da terra e das manadas: viviam no outro extremo da campanha. Ao contrário das outras correntes, representavam uma sociedade organizada, estável planificada. Enquanto os criollos espanhóis, portugueses, lagunistas e seus aliados charruas, minuanos e yarós empregavam na exploração do gado selvagem, uma economia de devastação, os tapes dirigidos pelos jesuítas, usavam uma economia de reprodução. Encerravam em grandes rincões (campestres) desconhecidos dos mestiços, milhares de vacas, e deixavam que se reproduzissem livremente . Consumiam nesse tempo a produção de outras invernadas. Decorridos alguns anos voltavam aos campos e recolhiam a produção. Essas grandes invernadas chamavam-se vacarias. Os jesuítas possuíam diversas. A atual cidade de Vacaria foi sede de uma delas.

Barbosa Lessa contava e escreveu sobre a lenda do gaúcho. Na lenda o gaúcho era um homem jovem, aprisionado pelos índios minuanos, condenado à morte por ter tentado escravizar minuanos, que , teve atendido um último pedido antes de ser executado – tocar e cantar  com uma viola improvisada. Seus acordes foram acompanhados de um canto triste, canto esse chamado gau che na língua  dos indígenas minuanos. Ao fim do seu canto uma índia reclamou o moço para si. O moço foi poupado da morte e seu nome ficou Gauche( canto triste ). Na lenda Gauche constituiu família com a jovem índia e o resto fica por conta da nossa imaginação.

Quem pretender buscar raízes outras, mais antigas, poderá vasculhar em velhas enciclopédias, perseguindo verbetes com  significados próximos- Garrucha, gauchim, ou gage.

Garrucha, era nome de uma comunidade de criadores de gado que vivia às margens do Mar Mediterrâneo, na Espanha. 

Gauchim, era um povoado de gente que se ocupava da criação de gado, em uma província da Espanha, mais precisamente na Província  de Málaga, nas proximidades da Sierra Del Hacho.

Gage, palavra que existe na língua castelhana e também na língua dos ciganos. Esta última hipótese foi examinada, entre outros estudiosos , por Walter Spalding ( Brasil) e Buenaventura  Caviglia( Uruguai), sem grandes resultados. O verbete cigano gage (pronuncia gagê) tem o significado de homem não cigano, não integrante da comunidade cigana.

  De todas as hipóteses sobre a origem da palavra gaúcho, ao autor deste texto, parece a hipótese mais confiável ser relacionado a palavra gauchim , o povoado de ascendência mourisca na Espanha, que tem uma característica comum ao gaucho, a criação de gado. Dos mouros que habitaram a Espanha, séculos atrás, pequenas outras coincidências remanesceram,como o uso de botas e as calças largas(bombachas), cuja origem tem, segundo os historiadores, sua gênese nos mouros que invadiram a margem espanhola do mar mediterrâneo ( região de gauchin). Essa ideia, sobre alguma marca arábica, é compartilhada por Domingo Faustino Sarmiento, que escreve:

No es outra la razon de hallar em Fenimore Cooper descripciones de usos y costumebres que parecen plagiadas de la pampa;asi, hallamos en los habitos pastoriles de la America, reproducidos hasta los trajes , el semblante grave e hospitalitad árabes.

 Quanto à etnia gaúcha, segundo a tese de Rubens Vidal Araújo, acima e antes transcrita, parece verossímil que tenha havido a miscigenação entre Américas nativas e imigrantes europeus. Sabendo-se alguns detalhes relevantes para tal consideração. O primeiro detalhe é que vieram mais homens europeus que mulheres durante povoamento. O segundo detalhe esta na atração nas mulheres nativas de tez escura e olhos negros tinham pelos homens de pele clara e olhos azuis. Essas circunstâncias devem ainda ser somadas ao fato de que as nativas conheciam a geografia da região e sabiam extrair alimentos nas situações mais inusitadas da própria natureza. A formação étnica proposta por Rubens Vidal Araújo  tem o apoio lógico e razoável dos fatos ocorridos e uma geografia real , ou seja, a mescla de portugueses e espanhóis com  mulheres nativas, desde a região de Laguna (SC) até o rio Da Prata, espaço no qual estavam diversos nações indígenas . Muitos foram os homens de carreira publica que tinham ascendência indígena seria impossível nominar a todos. Apenas para exemplificar, um nome bem conhecido – Fernando Apparicio Brinkerhoff Torelly, neto de uma uruguaia descendente de índios charruas (9). Se é que para algum leitor o nome de Apparcicio Torelly não lembra nada, devemos acrescentar que se trata do “Barão de Itararé”. ( 1895-1971).

 2. O Modo de Vida

O homem dos pampas, longe dos murmúrios da cidade onde os costumes se modificam a cada novo invento e os modismos alteram os modus vivendi, conserva as tradições passadas oralmente e vividas na prática. Sua ciência está na natureza, sua e do seu ambiente que conhece ao nível de um pós-graduado urbano. Se não conhece as letras, isso não é culpa sua . O Padre Julio Maria, em um texto perdido, deixou escrito: Quanto aos doutores cheios de ventos e não sabe o que é o vento.

O gaúcho conhece o vento e o tempo. Seu teto, muitas vezes, é o firmamento enfeitado ou não de estrelas, ainda que rujam trovões ou a luz seja causada pela eletricidade dos raios. No seu ambiente o gaúcho é doutor. O seu modo de vida é aquele determinado pela natureza, vive com aquilo que recebe com  aquilo que a natureza dá e o seu trabalho faz por merecer. O vento pode ser fresco, o ar pode ser puro e a água deve ser limpa. O gaucho sabe que quem gosta de água toldada é o cavalo, mesmo assim, não de água poluída. Contenta-se com pouco. Um pelego pode ser sua cama, o pala serve de coberta, e o galo pode ser seu despertador. O que o gaúcho não gosta é de tristeza, que espanta com os acordes de um violão ou de uma cordiona. E, se der tempo vira poeta. Sua mesa não é sofisticada, no entanto é farta. Foi Nicolau Dryes, em suas andanças pelo pampa gaúcho, quem o disse:

A generosidade parece uma qualidade inerte ao solo. À porta da charqueada ou da estância existe um sino, que é uso tocar-se nas horas da comida: serve ele para avisar o viajante vagando pelo campo, ou desvalido da vizinhança, que pode se chegar a mesa do dono, que esta se aprontando; e , com efeito, assenta-se quem quer a esta mesa da hospitalidade. Nunca o dono repele a ninguém, nem se quer pergunta quem é; por isso, poucos mendigos, ou, para melhor dizer, nenhum se vê no Rio Grande, a não ser, talvez, na capital, onde o judicioso exercício da caridade encontra mais dificuldade; nas povoações inferiores não há mendigos nem pode haver.

 3. Comportamento Político

Conservador de seus costumes,é progressista quanto à liberdade. Todas as guerras em que o gaúcho emprestou seu braço e disponibilizou sua vida, foram a favor da liberdade.  Objetivo a ponto de ser positivista antes de Auguste Comte,lutou em favor da jovem república ocidental de 1835 a 1845. Voltou às armas em 1893, na Revolução Federalista, aquela que escondia a restauração da Monarquia.

Republicano por convicção, já tinha apresentado suas propostas antes mesmo da Independência, em 1822. O Rio grande do Sul reconheceu dom Pedro como Imperador, para se livrar das cortes de Portugal, porém, sempre como tendência republicana.

Democrático e, por paradoxo, caudilho.

Isso não é privativo do gaúcho riograndense. Todos os líderes políticos do sul da América somam tais ingredientes, dentre aqueles que podem estar na alquímia política. Todos os grandes nomes da política sul- americana se diziam democratas enquanto exerciam o caudilhismo.

Demetrio Ramos Perez, em seu livro sobre San Martín, inclui uma ilustração dos gaúchos, que segundo o autor lutaram a favor da independência das colônias hispânicas, junto com as tropas de San Martin, referindo:

Os gaúchos argentinos, excelentes ginetes, temperados na dura vida da pampa, respondiam com perfeição às exigências de San Martins, que atribua às forças da cavalaria um papel fundamental, pois, em sua opinião, somente os ataques combinados se mostrariam eficientes frente à infantaria real. A atuação dos gaúchos que se integraram ao exército patriota confirmou esta convicção, deixando sobre estes magníficos ginetes pampeanos uma autêntica lenda.

Forçoso é admitir que a imagem do gaúcho decorre do amalgamento das etnias presentes à época do povoamento. Mesclaram-se todos os povos presentes , resultando em uma figura humana de compleição física forte.O clima  exigiu uma indumentária específica .

O pensamento e o comportamento decorreram das circunstâncias do pampa,às quais os indivíduos tiveram que se adaptar porque não puderam delas fugir. O clima frio e úmido procedeu uma seleção natural , sugando vidas humanas, derrotadas por doenças respiratórias causadas pelo clima frio e úmido. O extremo sul tem estações climáticas muito acentuadas, podendo o inverno atingir temperaturas negativas, com picos de até oito graus ( Celsius) baixo de zero.

4. O Gaúcho castelhano e o gaúcho Riograndense

Inicialmente o gaucho surgiu no território compreendido entre Laguna ( SC-Brasil) e o Rio da Prata, na Argentina. Ficou claro que o espírito do gaúcho, não estava atrelado a um território delimitado ou vinculado a um país. O gaúcho  estava no pampa; no Sul do Brasil, em todo o território uruguaio e no pampa argentino. No caso brasileiro, o gaúcho saiu do pampa ingressando em terrenos mais altos, nascendo daí o gaúcho dos Campos de Cima da Serra( Vacaria, Bom Jesus e adjacências ) e do Planalto Médio( região de Júlio de Castilhos).

À medida que surge e se amplia a figura do gaúcho nos campos do Estado do Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX, aparece menos a figura do gaúcho uruguaio e argentino.

Em viagem de pesquisa para observação desse fenômeno, realizada entre os dias 19 e 21 de abril de 2002, verificou-se que a figura do gaúcho estava estampada e toda a paisagem que vai de Porto Alegre até Santana de Livramento e, também na rota de Alegrete até Uruguaiana. San’Ana do Livramento fazendo fronteira com o Uruguai e Uruguaiana, fazendo fronteira com a Argentina .

Do lado uruguaio, na cidade de Rivera, não foi avistado nenhum gaúcho pilchado, o que pudesse identifica-lo, mais foi comum do lado brasileiro, em especial de São Gabriel, passando por Rosário do Sul, até Sant’Ana. No trecho Rosário do Sul/Alegrete/Uruguaiana a figura do gaúcho típico estava sobre cavalos e até nas paradas de ônibus. Registramos ausência  de mulheres trajadas com indumentárias e Passo de lós Libres( Argentina), desaparece a figura do gaúcho.

O estado do Rio grande do Sul, ao que parece, é o último reduto do gaúcho. A partir do movimento de tradicionalismo ou nativismo gaúcho, implantado em 1948 por estudantes do Colégio Estadual Júlio Castilhos, de Porto Alegre, onde despontaram Glaucus Saraiva, Lauro Rodrigues, João Carlos Paixão Cortes e Luiz Carlos Barbosa Lessa, dentre outros menor atuação, no Brasil, houve um crescimento acentuado da cultura gaúcha. Esse movimento se transportou para os outros Estados do Brasil com as migrações internas. Hoje podem ser encontrados Centro de Tradição Gaúcha na maioria dos Estados brasileiros, até mesmo na região norte. Existem, inclusive, atrações de radiodifusão com programação exclusivamente gaúcha. O Movimento de Tradição Gaúchas asseguras que existem mais de 8.000 centros ou departamentos de tradições gaúchas no Brasil, e, para espanto de algumas pessoas, em países distantes do Brasil e do Rio Grande do Sul. Existem pelo menos três CTGs nos Estados Unidos da América: em Massachusetts, Flórida e Califórnia.

Bonifácio Del Carril, observa o fenômeno do desaparecimento do gaúcho em solo argentino escrevendo :

“Se há escrito mucho sobre cuando y por quê El gaucho. Lo más cómodo es decir que el gaucho, como um personaje de la tragedia antigua, se retiró por el foro. Pero no fue simplesmente asl. El alambrado fue, desde luego, un factor. El ferrocarril, otro bien importante, por cierto. La carreta y la galera habían desaparecido. Las  diligencias desaparecieron también y las postas el camino. Se desarrolló la inmigración que pobló las grandes extensiones de tierra virgem y  se extendió la explotación agrícola. La psicología y el modo de vivier del modo de vivir del hombre de campo cambió necesariamente, como cambio con el tiempo la psicología y el modo de vivir del hombre en la cuidad.

Preguntar por qué desapareció el gaucho vale tanto como preguntar por qué  desaparecó el hombre de ciudad del siglo XIX. El gaucho nómade desapareció cuando el nomadismo fue numéricamente importante , a pesar de Martin Fierro, lo diré por última vez, cuando sus fechorías pasaron a ser comunes con las de otros hombres ‘ alzados’ . Juan Moreira subsistió hasta el siglo XX. El gaucho peón de estancia no desapareció sino que se tramnsformó. Vive o vivía hasta hace poco en el espíritu del hombre de campo argentino.”

      O gaúcho do lado brasileiro, não só no estado do Rio Grande do Sul como nos outros Estados por onde se difundiram as tradições do povo gaucho, não tem nenhum pejo ou vergonha, como, ao contrario, sente-se alegre e honrado vestindo a pilcha. O Estado do Rio Grande do Sul tem legislação ( Legislação Estadual) oficializando a pilcha como traje de honra. A lei estadual nº 8813, de 10 de janeiro de 1989, sendo autor o então Deputado Joaquim Moncks.

LEI Nº 8.813, DE 10 DE JANEIRO DE 1989.

Oficializa como traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, para ambos os sexos, a indumentária denominada "PILCHA GAÚCHA".

DEPUTADO ALGIR LORENZON, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.

Faço saber, em cumprimento ao disposto no § 5º do artigo 37 da Constituição do Estado, que a Assembléia Legislativa decretou e eu promulgo a seguinte Lei:
Art. 1º - É oficializado como traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, para ambos os sexos, a indumentária denominada "PILCHA GAÚCHA".
Parágrafo único - Será considerada "Pilcha Gaúcha" somente aquela que, com autenticidade, reproduza com elegância, a sobriedade da nossa indumentária histórica, conforme os ditames e as diretrizes traçadas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Art. 2º - A "Pilcha Gaúcha" poderá substituir o traje convencional em todos os atos oficiais, públicos ou privados, realizados no Rio Grande do Sul.
Art. 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO, em Porto Alegre, 10 de janeiro de 1989.

 

Se é que o gaúcho argentino e o gaúcho uruguaio restaram alambrados na vida urbana , sufocados pelo desenvolvimento , o gaucho brasileiro, ainda que assumindo a vida urbana, continua de espírito gaucho, orgulha-se do passado e da sua história. Para visitantes, que queiram comprovar  a figura  do gaucho, algumas regiões do estado são mais propícias, citando-se (apenas para exemplo)- São Gabriel, Rosário do Sul, Alegrete, Vacaria, Passo Fundo, dentre outras muitas

O espírito do gaúcho está ainda vivo na poesia campesina e na música nativista.

Desta última, para comprovar o espírito gaúcho são vendidos anualmente  mais de um milhão de exemplares de  discos (CD) somente no estado do Rio Grande do Sul , e, outro meio milhão em outros Estados .

Surge uma nova geração de gaúchos urbanos, o jovem universitário. Mesmo sem usar a pilcha, manifesta seu apego à cultura, vestindo camiseta, bombacha e trocando a bota pela alpargata, saí à rua orgulhoso e sempre que possível, com um chimarrão, substituindo a chaleira pela garrafa térmica. Dessa nova geração de gaúchos é exemplo o músico Borguetinho ( Renato Borghetti).

   5. Início do fomento a Cultura Gaúcha-

5.1 Estado- MTG e festivais- Início das fronteiras sendo ultrapassadas. 

 O Instituto de tradição e folclore, vinculado a divisão de cultura da Secretaria de educação e cultura, transformado vinte anos depois na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e folclore, órgãos normalmente dirigidos por tradicionalistas. Em 1964, uma lei estadual oficializou a Semana Farroupilha (entre 14 e 20 de setembro de cada ano), fazendo com que a Chama Crioula passasse a ser com todas as honras no Palácio Piratini, sede do governo, e se tornassem oficiais os desfiles realizados em 20 de setembro, em quase todas as cidades do estado, pelos centro de tradições gaúchas e a Brigada Militar . Em 1966, outra lei elevou o hino farroupilha à condição de hino do Rio Grande do Sul. No governo Triches (1971-1975), foi montado no Palácio Piratini, um “galpão crioulo”, que procurava recriar o ambiente das estâncias e serve para recepcionar visitantes ilustres, com churrasco, carreteiro e apresentações de música e danças regionais. Neste mesmo período o estado doou um terreno para que o 35 CTG pudesse construir sua sede própria.

   Em 1979 foi criado a secretaria de Cultura, desporto e Turismo, desmembrando-se a antiga secretaria de Educação e Cultura. Seu segundo titular foi Luiz Carlos Barbosa Lessa, um dos fundadores do “35”, que,defendendo a existência de doze regiões culturais no estado, implantou polos para interiorizar a cultura gaúcha( Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo do Governo do Rio Grande do Sul , s.d.). As atividades regionalistas passaram a contar com um apoio que não conheciam antes. Em 1988, uma lei estadual instituiu, na disciplina de estudos Sociais , o ensino de folclore em todas as escolas estaduais de primeiro e segundo graus do Rio Grande do Sul.  Em 1989, outra lei oficializou as pilchas (conjunto de vestes típicas dos antigos gaúchos, compreendendo a bombacha, botas lenço e chapéu) como “traje de honra e de uso preferencial” no estado, deixando sua caracterização a cargo dos “ditames e diretrizes do Movimento Tradicionalista Gaúcho”.

    O Tradicionalismo também conseguiu irradiar na sociedade civil o culto às tradições gaúchas. Criaram-se a Estância da Poesia Crioula, uma espécie de academia de letras para escritores de temas gauchescos, e a missa crioula, com uma liturgia inspirada na mesma temática, na qual Deus é chamado “patrão celestial”, a Virgem Maria é a “primeira prenda do Céu” e São Pedro aparece como “Capataz da Estância”. O casamento crioulo, realizado com noivos vestidos de acordo com a tradição, também se tornou bastante comum no Estado. Em várias cidades do interior , rodeios festivos passaram a reviver as lidas campeiras das estâncias, e o Movimento Tradicionalista Gaucho instituiu um concurso anual para escolher a “primeira prenda” do Rio grande do sul.em 1971, em Uruguaiana, cidade localizada na área da campanha,o CTG Sinuelo do Pago criou a Califórnia da Canção Nativa , primeiro festival de música nativista do estado. Realizando anualmente, ele serviu de modelo para os cercas de quarenta festivais existentes hoje nas mais diversas regiões.Estes eventos costumam reunir milhares de jovens que, geralmente acampam, evocam as músicas e o ambiente da vida campeira bem como os símbolos da vida campeira, bem como o símbolos da identidade regional ( Araújo, 1987).(13)

  O crescente interesse pelas coisas gaúchas ajuda a explicar o consumo de produtos culturais voltados para essa temática. Uma emissora FM da grande Porto Alegre se define como uma “rádio de bombachas” e só toca músicas nativistas, tendo sido premiada, em 1989, como veículo de comunicação do ano , concedido pela associação Rio-Grandense de Propaganda. Além dela , outros programas de rádio e de televisão, colunas  em jornais, revistas e publicações especializadas, livros , editoras, livrarias, feiras de livros e a própria publicidade fazem referencia direta aos valores gaúchos,O mesmo ocorre com bailões, conjuntos musicais, cantores, discos, restaurantes típicos ( com shows de músicas e danças gaúchas), lojas de roupas etc. Trata-se  de um mercado de bens materiais e simbólicos de dimensões nada desprezíveis , que movimenta grande número de pessoas e recursos e que , pelo visto, está em expansão.

   O consumo de produtos culturais gaúchos não é novidade, mas era bem menor e estava mais concentrado no campo ou em camadas populares (urbanas e suburbanas) de origem rural. A novidade são os jovens das cidades, em boa parte da classe média, que há pouco tempo começaram a tomar chimarrão, vestir bombachas e ouvir música gaúcha- hábitos que perderam o estigma de grossura. O novo mercado está concentrado em cidades, onde vivem cerca de 75% da população do estado, e atinge grande número de pessoas sem vivências rurais. (1)

Em novembro de 1988, realizou-se em La Plata, Argentina, o IV Congresso Internacional de Tradição Gaúcha . Definiu-se então a área geográfica da cultura gaúcha;” Chegou –se à configuração de um circulo que toma como diâmetro referencial o paralelo 30 de latitude sul , passando pela localidade de Mendoza ( referencial sudoeste, na Argentina ) e um pouco além de Sorocaba (referencial nordeste do Brasil). Nessa imensa área observa-se o congraçamento das tradições autóctoneas americanas, tendo elemento em comum o ritual guarani do chimarrão (tradição inexistente noutras porções de nosso planeta) e como objetivo maior a fraternidade universal. Essa definição foi referendada em Caçapava do Sul em janeiro de 1989”(2) .

 

 5.2-CRESCIMENTO DO GAUCHISMO

A Expansão do Tradicionalismo seguiu uma dinâmica interessante. O movimento teve pouca repercussão em Porto Alegre mas no interior seu crescimento foi impressionante . A partir dai Congresso Tradicionalista realizado em 1954 em Santa Maria, os centros de tradição gaúcha passaram a reunir-se anualmente para ouvir a  apresentação de teses, aprovar moções e tomar deliberações. No VII Congresso, realizado em Taquara em 1961, foi aprovado a Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista, redigida por Glaucus Saraiva, um dos fundadores do ‘35’ e autor do Manual do Tradicionalista (Saraiva, 1968) que fornece orientações para os tradicionalistas e os centros de tradições gaúchas.

     Durante o XII Congresso, realizado em Tramandaí em 1966, foi fundado o Movimento Tradicionalista Gaúcho( MTG), que passou a congregar a maior  parte das entidades do estado, tornando-se “o catalizador, disciplinador e orientador das atividades dos seus filiados no que diz respeito ao preconizado na Carta de Princípios do Tradicionalismo Gaúcho ”  (16) .

O tradicionalismo conseguiu se expandir também em outras direções. No Paraná existem 156 CTGs filiados ao Movimento Tradicionalista Gaúcho do Paraná, que tem treze regiões . Neste estado, o gauchismo é um sentimento tão forte que, num número da revista da Fundação Cultural de Curitiba dedicado a essa questão, o autor de um texto-sugestivamente intitulado “ Passe a cuia, tchê!”- reivindica: “não se veja nos CTGs algo exclusivamente do Rio grande do Sul(...) Os centros de tradições gaúchas , os CTGs, revivem uma tradição que é comum a Uruguai, argentina , Rio Grande do Sul , santa Catarina e Paraná. Somos todos “gaúchos”(...) velhos conhecidos, tomadores de mate e comedores de churrasco”.

Vale recordar em 1857 se fundou no Rio de Janeiro a Sociedade Sul-Rio-grandense, obteve dos gaúchos aquerenciados na Corte pronta adesão, que ainda hoje tem continuidade, no especial brilhantismo no CTG “Desgarrados dos Pago”. Semelhante resposta obteve o Major Cezimbra Jacques, quando em 1898 fundou em Porto Alegre o “Grêmio Gaúcho”, igualmente a “União Gaúcha”, fundada em Pelotas em 1899, com a participação de João Simões Lopes Neto, bem como o “Grêmio Gaúcho” de Santa Maria, surgido também da iniciativa de Cezimbra em 1901.

5.3  A TRADIÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO

 “Em lugar de ser um obstáculo à globalização, a regionalização pode ser vista como um processo por meio do qual a globalização recria a nação, de modo a conformá-la à dinâmica da economia transnacional. O globalismo tanto incomoda o nacionalismo como estimula o regionalismo. Tantas e tais são as tensões entre globalismo e nacionalismo que o regionalismo aparece como a mais natural das soluções para os impasses e aflições do nacionalismo” (Octavio Lanni, A Era do Globalismo, 1997).

No plano cultural, a globalização tenta se sobrepor às raízes dos povos. Na Amazônia, no interior do Rio Grande, no Rio de Janeiro, na Rússia, na Índia ou na China e até nos países islamistas, o contato com mensagens provenientes de milhões de telas de televisão e computadores provocam os mesmos gostos, os mesmos desejos, insinuam os mesmos valores, sugerem a mesma fantasia de vida. Em toda a parte a juventude organiza suas preferências pressionada para padrões homogeneizados.

Segundo a prenda Juvenil do Estado do RGS, Isabella Nunes em declaração no jornal eco da tradição de janeiro de 2019:

Atualmente, as redes sociais dão muita visibilidade para alguns meios da sociedade e muitas vezes as nossas tradições, os nossos hábitos, não possuem tanta importância e notoriedade. Devemos sempre lembrar que aproximação de mais jovens para o Movimento Tradicionalista Gaúcho deve ocorrer de forma espontânea, pelo sentimento, por saber da importância e, como a internet está cada vez mais presente nas nossas vidas, uma maior divulgação dos hábitos campesinos, das danças tradicionais, dos concursos de prendas e dos esportes campeiros, traria cada vez mais adeptos para o tradicionalismo. Hoje essa aproximação ocorre muitas vezes pelos desfiles de 20 de setembro, pela semana farroupilha e pelos projetos que nós, prendas de faixa, realizamos como o “MTG e a Comunidade Escolar”, onde a nossa cultura é levada e demonstrada às novas gerações. Muitas vezes, depois dessas atividades, nós avistamos várias crianças adentrando entidades tradicionalistas, querendo participar e trazendo junto um dos mais importantes “órgãos” da sociedade: a família, que na maioria das vezes vem conhecer pela primeira vez nossos CTGs. O jovem deve desde cedo exercer cargos de liderança no Movimento, cargos importantes, que lhe tragam responsabilidades. Desta forma, nós estaremos sendo preparados para o futuro da nossa instituição e saberemos como agir. Porém, sempre devemos ter no costado os mais experientes, aquelas pessoas que vão nos dar a base e nos mostrar o caminho para os próximos anos dessa federação. Para que mais jovens participem, uma das formas de trazer mais adeptos seria cada vez mais o Movimento se unir aos demais grupos sociais, como os escoteiros, o Lions, o Rotary, e outros em que o jovem tenha participação efetiva e assim, mais fortes e com um maior número de diversidade e membros da nossa sociedade, estaremos levando nossa tradição às causas sociais e assistenciais pois, solidariedade, simplicidade e voluntariado devem ser, além da cultura, uma tradição a ser cultivada diariamente por todos.

No de 2019  a tese o sentido e o valor do tradicionalismo de Barbosa Lessa  completou 65 anos.

6- Desterritorialização da cultura

Segundo a professora Tatiana Colasante, no artigo A IDENTIDADE TERRITORIAL DOS MIGRANTES GAÚCHOS NO PARANÁ, a formação das identidades territoriais a partir do processo migratório envolve uma constante dinâmica de territorialização, desterritorialização e reterritorialização na qual as identidades territoriais são recriadas e ressignificadas. Refere que conforme os estudos que observam os diferentes grupos sociais que existem no território brasileiro, os gaúchos de destacam como aqueles que possuem, provavelmente, a maior coesão social entre seus indivíduos. Essa assertiva tem como base a existência de Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) por quase todos os estados do Brasil e em diversos países que funcionam como microterritorialidades, onde os gaúchos conseguem manter suas tradições mesmo estando espacialmente distante do seu território de origem. Verifica que o Norte do Paraná por ter uma colonização recente, ainda não possui uma identidade territorial que o defina. Dessa forma, a cultura gaúcha pelo seu caráter expansionista e tradicionalista acaba sendo apropriada pelos Norte-paranaenses justamente pela falta de elementos culturais mais significativos no território. Por outro lado, os CTGs nesta região funcionam não apenas como o locus de encontro para os gaúchos a fim de preservar suas tradições mas são reestruturados para se adaptar a uma outra estrutura organizacional devido a estas novas territorialidades que surgem a partir da inserção de indivíduos que não são gaúchos nestes espaços. Este híbrido cultural que surge em função dessa dinâmica nos traz novos sujeitos sociais para o debate, os paranaúchos, aqueles que são nascidos no Paraná, mas que se consideram gaúchos por opção. Nesse sentido, constatamos que o ser gaúcho é algo atrelado muito mais ao modo de vida e a adoção dos costumes gaúchos do que ao local de nascimento do indivíduo.

A desterritorialização simbólica ocorre quando o migrante destituído de seu local de origem se desenraiza simbolicamente de seus referencias de identidade.

Afirma a citada autora que nas redes migratórias, a identidade assume papel essencial para os migrantes, já que fornece elementos de referência fundamentais para que estes sujeitos sociais se sintam acolhidos em território desconhecido.

Ressalta a necessidade de constituição dos CTGs que, ao mesmo tempo em que servem para preservar e disseminar a tradição gaúcha são utilizados também para momentos de socialização entre os gaúchos, atuando como mecanismo de segurança à medida que propicia um sentimento de afetividade entre os sujeitos que passam por momentos de adaptação a uma cultura diferente.

Em função de movimentos de des-continuidades a cultura nunca pode ser compreendida a partir de valores estagnados, pois, a cada contato com outras etnias, o indivíduo absorve esses valores, tanto de forma imposta ou por escolhas próprias. Esse processo alcançou uma dimensão muito maior com a globalização, fazendo com que os indivíduos, de fato, se tornem híbridos culturais sem a necessidade de contato físico, por intermédio de redes virtuais e a amplitude dos meios de comunicação. Dessa maneira, mesmo sem nunca ter visitado o Rio Grande do Sul, os indivíduos podem se identificar com os valores e o tradicionalismo gaúcho e, com isso, se apropriar de dados elementos que vão conferir a eles, novas variáveis que poderão (re) construir este indivíduo do ponto de vista da cultura.

Segundo Simon (2009) nos explica entre as décadas de 1950 e 1960, houve uma migração organizada dos gaúchos para o oeste do Paraná se processou de forma intensa. Geralmente, os gaúchos partiam em grupos com suas famílias, vizinhos e amigos. Essa unidade familiar acaba sendo um dos aspectos mais acentuados nos CTGs, a partir das práticas territoriais destes sujeitos reterritorializados já que muitos pais acham fundamental repassar aos filhos os valores ancestrais para que a cultura não se perca no tempo e no espaço.

A citado a professora em pesquisa empírica, entrevistando freqüentadores dos CTGs no norte do Paraná concluiu:

“O tradicionalismo gaúcho é encarado pelos seus simpatizantes como algo benéfico e que deve ser praticado, sobretudo, às novas gerações a fim de que os valores não se percam. Nesse sentido, os CTGs foram considerados por alguns entrevistados, ambientes de socialização familiar, onde os pais podem trazer os filhos sem medo, como se este fosse um território à parte do demais contexto social e uma vez estando lá, somente os bons costumes e os valores éticos são praticados. A partir disso, podemos compreender o imaginário coletivo que muitos gaúchos carregam em si quando migram para outras regiões do país, pois, acabam trazendo consigo essa ideologia de preservar a tradição em diversos territórios, de forma a reproduzir seus valores. Verificamos, portanto, que estes grupos sociais possuem uma territorialidade baseada em comportamentos e ações que estão condicionados à múltiplos aspectos como políticos, econômicos e culturais.

A desterritorialização é uma característica geral da sociedade pós-moderna, dominada pela mobilidade, pelos fluxos, pelo desenraizamento e pelo hibridismo. O que exerce impacto nas trocas culturais. Um dos pontos do conceito de desterritorialização e de que, devido a globalização, determinados traços culturais não estão mais ligados a um espaço geográfico: você encontra um bairro chinês, com suas culturas e características, em São Paulo. II A globalização ajuda a expandir esse fenômeno: um shopping center é fruto de uma cultura global onde várias manifestações culturais estão fora do seu contexto geográfico, vivendo juntas. Cabe citar  Carta de Principíos, o artigo VIII  – Pugnar pela fraternidade e maior aproximação dos povos americanos.

7- Migração e abertura das fronteiras agrícolas -Agricultura e o gaúcho desbravador

Evitamos tautologia e citamos neste ponto o então Senador Pedro Simon (2009):

“ Quero fazer aqui algumas reflexões sobre as questões sempre palpitantes da posse e do uso da terra, da reforma agrária e da migração do homem do campo, que, como disse anteriormente, estão unidas. E, quando eu falo de migração, eu me refiro especialmente aos agricultores gaúchos porque foram eles os brasileiros que mais terras incorporaram ao sistema produtivo do país. O que eu gostaria de destacar é que o Brasil começou a se transformar numa potência na produção de alimentos quando, no início do século XX, os filhos dos imigrantes italianos e alemães estabelecidos no nosso Estado começaram a adentrar o território catarinense, então tomado pelas florestas. Naquele Estado vizinho reproduziu-se o modelo dos nosso primeiros imigrantes, que em pequenas propriedades praticavam uma agricultura de subsistência. Dezenas de cidades que estão hoje entre as maiores de Santa Catarina foram fundadas pelos gaúchos no Oeste e no Meio-Oeste daquele Estado.

Depois que essas terras foram incorporadas à produção, num processo que se estendeu por três ou quatro décadas, a maré humana formada pelos agricultores gaúchos e seus familiares avançou para o Oeste do Paraná. Nessa nova fronteira, muitas das terras foram vendidas por empresas colonizadoras com sede no Rio Grande do Sul. Ao longo de todo esse tempo, os gaúchos continuavam a sair do Estado por um mesmo motivo: o excessivo fracionamento das propriedades em função das divisões entre filhos nos inventários. Porém, a questão do campo se agrava a partir dos anos 50, quando começa a mecanização das lavouras. Ao mesmo tempo, o país ingressa num período de acelerada industrialização. Os cidadãos das pequenas cidades e do campo acorrem às grandes cidades em busca de um trabalho melhor remunerado ou em busca de educação para seus filhos. No começo dos anos 70, desata-se a grande migração. Os gaúchos e também os filhos de gaúchos nascidos em Santa Catarina e no Paraná avançam em grandes fluxos para o Norte. Basicamente, todos queriam uma porção maior de terras para plantar. O processo de mecanização da agricultura passara a permitir que um grupo familiar, com a ajuda de tratores e colheitadeiras, pudesse explorar uma área bem mais extensa. Paralelamente, começava o avanço da biotecnologia. Surgia a Embrapa, empresa que orgulha todos os brasileiros. Os solos passaram a ser estudados e melhorados com corretivos. As sementes são aperfeiçoadas. Novos e melhores defensivos combatem o surgimento de pragas. Ao longo dos anos 70, mas com maior velocidade no final daquela década e até a metade dos anos 80, os gaúchos se espraiam por Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Amazonas, Brasília, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Maranhão. Na década de 90, será a vez do Piauí.”

8. Cavaleiros da Paz- Embaixadores da Cultura e do folclore do Rio Grande do Sul

Esta Confraria de cavaleiros foi criada em 1990 pelo tradicionalista, antropólogo, advogado e historiador Antônio Augusto Fagundes, conhecido como Nico Fagundes. A ideia surgiu ao ser provocado por um conterrâneo que alegava não haver mais gaúchos a cavalo, capazes de refazer os antigos caminhos que os antepassados fizeram nas épocas de guerra. Nico aceitou o desafio, acreditando numa dívida histórica que o Rio Grande do Sul mantinha com o país vizinho, invadido com armas durante a Guerra do Paraguai no final do século XIX e resolveu refazer o caminho com a bandeira branca da paz. Junto com Rodi Pedro Borghetti, Eltons Saldanha, Toco Castro e cerca de outros 20 cavaleiros, sairam de Alegrete, no Rio Grande do Sul, no dia 1º de junho de 1990, até Assunção, no Paraguai. Nascia ali este grupo de cavaleiros que seguiria levando a cultura gaúcha aos quatro cantos do mundo com a  bandeira branca da paz e hoje são reconhecidos como Embaixadores da Cultura e do Folclore do Rio Grande do Sul. I Cavalgada – Paraguai1990 – de Alegrete a Assunção, no Paraguai

II Cavalgada – Roteiro De Martin Ferro 1991 – de Santana do Livramento a La Plata (Argentina) 31 dias e 1.310km

III Cavalgada – Do Atlântico Ao Pacífico (A Grande Cavalgada)1993 – do Oceano Atlântico (Cidreira) ao Oceano Pacífico (Viña Del Mar) 66 dias  – 3.000 km

IV Cavalgada – Uruguai 1995 – de Canguçu/RS até Colônia Del Sacramento (Uruguai)

21 dias e 880km

V Cavalgada – Pantanal 1996 – de Aquidauana/MS, a Puerto Suares, na Bolívia

23 dias e 850km

VI Cavalgada – Missões 1997 – La Santissima Trinidad (Paraguai), via missões argentinas, a São Miguel das Missões/RS

20 dias e 750km

 VII Cavalgada – Gal. San Martin 1998 – de Quaraí a São Borja, costurando as fronteiras do Brasil, da Argentina e do Uruguai.

VIII Cavalgada – 500 Anos Do Brasil 2000 – 1ª Etapa de Porto Seguro (local da 1ª missa no Brasil), na Bahia, até Salvador

700 km

IX Cavalgada – Portugal (500 Anos Do Brasil) 2003 – 2ª Etapa Portugal, saindo de Cabo de São Vicente até a cidade de Lagoa

X Cavalgada – São Miguel2005 – do Forte de São Miguel, no Uruguai, até Rio Grande

XI Cavalgada – Fim Do Mundo (Extremo Sul) 2010 – em El Calafate – 4 dias e Ushuaia -1 dia  Última cavalgada do fundador Antônio Augusto Fagundes

XII Cavalgada – Canadá (Extremo Norte) 2011 – em Tsylos Provincial Park -7 dias

XIII Cavalgada – Nelson Mandela (África Do Sul) 2013 em Waterberg –  6 dias

XIV Cavalgada – Mongólia  2014 – 11 dias

XV Cavalgada – México 2016 – Caminho da Revolução Mexicana Emílio Zapata e Pancho Villa Rota do Prata

XVI Cavalgada – Espanha 2016 – Santiago de Compostela

XVII Cavalgada – Peru  2017

XVIII Cavalgada – Austrália (O 5º Continente) fev/2018 2019 Cavalgada Da Boate Kiss

Os cavaleiros foram convidados a participar da II Cavalgada em memória as vítimas da Boate Kiss, saindo de São Gabriel a Santa Maria, onde 249 jovens perderam a vida no incêndio ocorrido em 27 de janeiro de 2013.

2018 Cavalgada Do Poncho Verde -Saindo da sede da ABCCC em  Dom Pedrito/RS até o local de assinatura da paz da guerra dos farrapos.

9- O CAVALO CRIOULO

O cavalo crioulo o cavalo foi introduzido na região Platina (Argentina e Uruguai) e no Paraguai pelos espanhóis a partir do ano de 1532.Os primeiros registros de manada de cavalos selvagens do Pampa uruguaia e sul-rio-grandense são de 1580.

A  origem dos primeiros cavalos a pisarem no pampa é o norte da África.Os muçulmanos levaram seus cavalos para a Península Ibérica, oito século antes do descobrimento do Brasil.

 Nossos primeiros cavalos eram os descendentes dos cavalos Andaluzes e Lusitanos. Dessa linhagem é que se origina o Cavalo Crioulo,  cuja genética foi sendo aprimorada entre os séculos XVI e XX.

Os índios charruas e minuanos aprenderam a domar os cavalos e passaram a utilizá-los como principal meio de locomoção antes mesmo da chegada dos Jesuítas em solo gaúcho. Até os dias atuais, ainda são utilizadas algumas técnicas de domas adotadas pelos indígenas.

A raça crioula está espalhada por todo o Brasil a criação original se deu no município de Uruguaiana sendo considerado o primeiro cavalo  crioulo o garanhão La Invernada Homero. 

O cavalo crioulo é um animal composto, robusto e  inteligente. Apresenta a cabeça curta e larga,  afilando-se em forma de cone, focinho saliente, face reta  com olhos expressivos afastados lateralmente, orelhas curtas e empinadas.O pescoço musculoso e o peito largo.O  dorso é curto, lombo forte garupa arredondada  e musculosa. As pernas são curtas com patas pequenas e duras.

A maioria das pelagens dos cavalos crioulos apresenta uma raiadura escura que parte das cruzes (início do lombo) acompanhando a espinha dorsal e termina na raiz da cola (rabo). O cavalo crioulo é considerado com animal símbolo junto com o quero-quero e patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul, por definição da lei 11826 de 26 de Agosto de 2002.( Manual do Tradicionalismo )

10-.  As fronteiras que a música ultrapassou

São exemplos de artistas que representam esta façanha :

Vitor Mateus Teixeira – Texeirinha

A música “Coração de Luto” vendeu mais de vinte e cinco milhões de cópias, é a única no mundo, mais vendida superando cantores como Michael Jackson, Julio Iglesias, cantores contemporâneos de grande vendagem de discos, mas não de uma única música, como o caso de “Coração de Luto”, que continua na cotação de uma das músicas mais executadas.

A Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania lança a 7ª Edição do Edital Culturas Populares que em 2019 homenageia Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, um dos principais nomes da música tradicional brasileira. Teixeirinha deixou como principal legado a sua contribuição para a consolidação da música popular, como referência da identidade e um marco para o segmento das Culturas Populares.

Heber Artigas Armua Frós, Gaúcho da Fronteira nasceu no interior do Uruguai, mas cresceu em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul. Antes da fama, trabalhou como peão de estância, taxista e motorista de caminhão. Em 2009 naturalizou-se brasileiro. Em 2018 completou 50 anos de carreira e no dia 31 de maio de 2020, fez sua primeira “live” Churrasqueando com o Gaúcho da Fronteira onde lançou o áudio visual-documentário Gaúcho da Fronteira “Rio Grande do Brasil” no canal do youtube Gaúcho da Fronteira Oficial.

 

 11-  Literatura

“Caberia aos integrantes da Sociedade Partenon o esforço para louvação dos tipos representativos mais caros à classe dirigente. Sedimenta-se ali o início da apologia de figuras heroicas, alçadas à condição de símbolos da grandeza do povo rio-grandense. Encontra-se na sedição  farroupilha os paradigmas de honra, liberdade e igualdade que tornariam inerentes ao futuro mito do gaúcho dissolvendo-se os motivos econômicos e as diferenças entre as classes existentes no conflito”

 Embora os literatos do Partenon tenho exaltado a temática Gaúcha só em 1898 surgiu a primeira agremiação tradicionalista Grêmio Gaúcho de Porto Alegre voltado para a promoção de festas, desfile de cavalarianos palestras e outras atividades ligadas ao culto das tradições. A fundação da entidade foi obra de João Cezimbra Jacques republicano, positivista homem de origem modesta que lutará como voluntário na guerra do Paraguai e receberá a patente de Major do exército segundo ele o Grêmio tinha como objetivo:

“Organizar o quadro das comemorações dos acontecimentos tão grandiosos de nossa terra(...) Pensamos que esta patriótica agremiação não é destinada a manter na sociedade moderna usos e costumes que estão abolidos pela nossa evolução natural e que a época em que a qual vivemos não comporta mais,  e nem é tampouco ela uma associação, tendo por fim trazer para objeto de suas práticas jogos elementos recreativos do tempo corrente e importados do estrangeiro. Nem uma coisa  nem outra . Mas  é ela,  sim, uma associação destinada a manter o cunho de nosso glorioso Estado e consequentemente as nossas grandiosas tradições integralmente por meio de comemorações regulares dos acontecimentos que tornaram o sul-rio-grandense um povo célebre diante, não só da nossa nacionalidade, como do estrangeiro: por meio de solenidades ou festas que não excluem  os usos e costumes, os jogos e diversões do tempo presente: porém, figurando nelas, tanto quanto possível, os bons usos e costumes os diversões do passado: por meio de solenidade que não só relembrem e elogiem o acontecimento notável  comemorar, pelo verbo ou pelo  discurso, como por meio de representação de atos tais como canções populares, danças, exercícios e mais práticas dignas, em que os executores se apresentem como o traje e utensílios portáteis, tais como os de uso gauchescos .”

 Além de enfatizar o culto às tradições, a citação trata-se de questão que, na época, despontavam :  a existência de costume superados por “nossa evolução natural”, a problemática das práticas trazidas “ do estrangeiro” ,  a existência  de “bons” usos e costumes etc. Em outros termos, as mesmas questões seriam recolocados mais tarde.

 Havia dois aspectos comuns ao Partenon Literário e ao Grêmio Gaúcho. O primeiro: ambos eram formados por pessoas de origem modestas, não detentores de terras ou capital. Como ocorreu em outras partes do Brasil do mundo, a atividade intelectual era, ao lado das carreiras militar e política uma das poucas formas de ascensão disponíveis a pessoas oriundas das camadas depossuídas e desejosas de ingressar na esfera do poder. As condições econômicas, sociais e políticas ainda não permitiam que se formasse uma camada de intelectuais dotada de relativa autonomia.

O segundo aspecto era a preocupação com a questão da tradição e da modernidade, presente em ambas as entidades embora sob formas diferentes. Ao mesmo tempo em que tinha como modelo o que considerava mais avançado da Europa culta, o Partenon evocava a figura tradicional do gaúcho e louvava os seus abalados valores. O Grêmio Gaúcho nas palavras dos eu fundador procurava manter as tradições mas sem excluir os costumes do presente. Nos dois casos o mesmo plano de fundo: um estado em transformação, no qual a tensão entre passado e presente começava-se a se fazer sentir.

A fundação do Grêmio Gaúcho foi seguida pela criação de mais cinco entidades, consideradas pioneiras pelos tradicionalistas: União Gaúcha de Pelotas (fundada em 1899 por Simões Lopes Neto,grande escritor regionalista),Centro Gaúcho de Bagé (1899), Grêmio Gaúcho de Santa Maria( 1901), Sociedade Gaúcha Lombagrandense (fundada em 1938 em de colonização alemã) e Clube Farroupilha de Ijuí (fundado em 1943 em área de colonização alemã e italiana).

 

12-  CBTG/CITG

A Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha foi fundada em 24 de maio de 1987, na cidade de Ponta Grossa/PR.

Numa primeira reunião realizada no dia anterior se reuniram tradicionalistas representando os MTG’s do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, entre eles: Zeno Dias Chaves (Presidente do MTG/RS), Onézimo Carneiro Duarte, Nei Zardo, Décio Albino de Oliveira, Roberto Araújo, Sidinei Araújo, Luiz Antonio Avilla, e outras autoridades da época. Representante de Santa Catarina Rui Arruda e do Uruguai Jorge Lopez. A reunião teve como objetivo um primeiro encontro para estudos da criação da Federação Nacional de Tradicionalistas. Pelo Senhor José Theodoro Bellaguarda de Menezes foi sugerido que o nome dado à Federação fosse Confederação Nacional da Tradição Gaúcha, tendo sido decidido pela maioria presente na reunião que se chamaria Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha.

E assim no dia 24 na cidade de Ponta Grossa, era fundada a CBTG, estando presentes os presidentes do MTG/RS, MTG/PR e da FPTG (Federação Paulista da Tradição Gaúcha), na oportunidade foi lavrado o manifesto de fundação da CBTG, com as considerações de fundação da entidade e algumas resoluções administrativas como institucionalização, oficialidade, legalidade, integração de Santa Catarina, auxílio aos CTG’s, criação de comissão para elaboração do estatuto.

O manifesto é finalizado com o seguinte texto: “Para honrar a glória das tradições gaúchas e pela certeza de um futuro digno para a nossa Pátria e para legado aos nossos descendentes, lavrou-se esse manifesto aos 24 dias do mês de maio de 1987, na histórica cidade de Ponta Grossa no Estado do Paraná.”

Somente em outubro de 1988, na cidade de Florianópolis/SC, foi eleita a Primeira Diretoria Executiva que teve como presidente Jocob Monn Filho (MTG/SC).

Desde então tivemos 15 presidentes diferentes incluindo o atual Presidente Roberto Basso.

1988: Jocob Monn Filho (MTG/SC);

1989/1991: Nei Antônio Zardo (MTG/RS);

1991/1933: José Theodoro Bellaguarda de Menezes (MTG/RS);

1993/1995: Rubens Luis Sartori (MTG/PR);

1995/1997: João Francisco Rodrigues de Andrade (MTG/RS);

1997/1999: João Joarez Ribeiro Esmério (MTG/SC);

1999/2001: Edson Otto (MTG/RS);

2001/2003 e 2003/2005: Celso Souza Soares (MTG/RS);

2005/2007: Celívio Holz (MTG/SC);

2007/2009: Décio Albino de Oliveira (MTG/SP);

2009/2011: Dorvílio Lopes Calderan (MTG/PC);

2011/2013: Manoelito Carlos Savaris (MTG/RS)

2013/2015: Erival Bertolini (MTG/RS), que renunciou em maio de 2014 assumindo o 1º Vice João Ermelino de Mello (MTG/MS);

2015/2017 e 2017/2019: João Ermelino de Mello (MTG/MS);

2019/2021: Roberto Basso (MTG/MT)

Os ex-presidentes conforme ESTATUTO compõe o Conselho de Vaqueanos da CBTG.

A Confederação Internacional da Tradição  Gaúcha- CITG foi fundada no dia 21 de abril de 1984 por ocasião da Gran Semana Criolla Del Parque Roosevelt, em Canelones, no Uruguai por tradicionalistas  brasileiros, argentinos e uruguaios, abrangendo os três países.É uma entidade sem funções administrativas com a fim de facilitar as relações entre as instituições tradicionalista gauchescas espalhadas pelo mundo.

 

“Ser gaúcho é uma questão de identidade, mas não basta apenas sentir-se gaúcho. Ser gaúcho não é apenas um estado de espírito. É preciso agir como gaúcho em todas as situações. Para isto, é necessário estudar a história dos povos do Sul e enfronhar-se na cultura gaúcha, assumindo e vivendo os valores gaúchos”. Roberto Cohen.

 

 

 

 

 

Referências

 BARBOSA LESSA, Luiz Carlos. ( 1989), O cevador. Proposição apresentada e aprovada no I Congresso Estadual de Cultura. Porto Alegre .

--------------------(1979). O sentindo e o valor do tradicionalismo. Porto Alegre , samrig.

____________(1985). Nativismo. Um fenômeno social gaúcho. Porto Alegre, L&PM

Revista Brasileira de Ciências Sociais, número 15- ano 6 fevereiro de 1991. 

CIRNE, Paulo Roberto de Fraga, 2017- Tradicionalismo gaúcho organizado: 70 anos de história(1947-2017)

Kich, Bruno Canísio – Pequena enciclopédia gaúcha? Bruno Canisio, Porto alegre Edição 2011

  1-Durante o primeiro encontro de cultores de música gaúcha , presidente da associação Gaúcha de Eventos Musicais afirmou que ,em 1988, “o público médio de cada um dos cercas de cinquenta festivais programados  foi cinco mil pessoas. Isto significa um público direto de novecentas mil pessoas alcançadas, somente nas apresentações, dois ginásios ou teatros , mais quinhentas mil, aproximadamente , nos acampamentos”. Ver “Festivais nativistas: público maior que os jogos de futebol”, Zero Hora , 12 de julho de 1989, 2º caderno, p. 6

2-Em 1980, concentravam-se no setor primário 28, 65% da população economicamente ativa do Rio grande do Sul, no setor secundário 25,77% e no terceário45, 58%( Fundação de Economia e Estatisticas do Rio Grande do Sul , 1985, p.11) Estima-se que no ano 2020 o estado terá onze milhões de habitantes, 95% dos quais morando nos centros urbanos. Ver “Aumenta número de gaúchos que saem do campo para a cidade”, Zero Hora, 28 de janeiro de 1989, p.26.

( Trechos de em busca do tempo perdido , páginas 48 e 49

https://cavaleirosdapaz.com.br/site/

https://chasquepampeano.com.br/site/entrevista-com-savaris-sobre-os-49-anos-do-mtg/

https://www.dinheirorural.com.br/secao/entrevista/o-futuro-que-vem-do-sul

http://www.mtg.org.br/public/libs/kcfinder/upload/files/Reflex%C3%A3o%20necess%C3%A1ria%20-%20ideologia%20do%20tradicionalismo%20ga%C3%BAcho%20-%20Manoelito%20Savaris.pdf

http://www.mtg.org.br/index2.php/historico/219 (Carta de Princípios) http://www.mtg.org.br/index2.php/historico/247   ( Plano de Ação Social)

http://www.mtg.org.br/index2.php/historico/240  (Tese o sentido e o valor do tradicionalismo)

http://www.mtg.org.br/index2.php/historico/243   (Tese O sentido e o alcance social do Tradicionalismo –Jarbas Lima)

 http://www.teixeirinha.com.br/teixeirinha.php   (Teixeirinha )

https://www.youtube.com/watch?v=KZeC69-O5FI&feature=youtu.be ( Culturas Populares- Governo Federal)  http://culturaspopulares.cultura.gov.br

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/176699/livro043.pdf?sequence=7&isAllowed=y

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